sábado, 18 de dezembro de 2010

Adeus... e Nem Voltei




"Adeus, dissemos
E nada mais de então ficou
De asas quebradas
Foi a ave branca que voou
Voa lá alto, que eu morro, bem sei, sem voltar
Cantem as aves do monte qu'eu fui ver o mar...




Ai,
Não sei de mim;
Ai,
Não sinto nada..
Ai,
E nem,
Voltei."



Pedro Ayres de Magalhães.


domingo, 14 de novembro de 2010


Saudade




Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
sói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono


Mia Couto

terça-feira, 22 de junho de 2010

Eu ouço sobre o amor e me calo




Eu ouço sobre o amor e me calo
Eu não quero nem saber
O que me espera
Eu acelero
Tomo um gole do que eu não conheço
E meu primeiro porre
Será um mistério imenso
Eu vim do avesso
Reverso do que era aceito
Ninguém sabe tudo
Nada é perfeito

Eu escuto fora
Com o ouvido de dentro
Eu me alimento
Do meu silêncio
E canto
Porque sinto um encanto
Sinto e canto
E canto
Porque sinto um encanto
Sinto e canto
E canto
Porque sinto um encanto
Sinto e canto
E canto
Porque sinto um encanto
Sinto e canto
E canto
Porque sinto um encanto
Sinto e canto


Paulinho Moska

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sua latitude

Me escreva uma carta sem remetente
Só o necessário e se está contente
Tente lembrar quais eram os planos
Se nada mudou com o passar dos anos
E me pergunte o que será do nosso amor?

Descreva pra mim sua latitude
Que eu tento te achar no mapa-múndi
Ponha um pouco de delicadeza
No que escrever e onde quer que me esqueças
E me pergunte o que será do nosso amor?


Thiago Pethit

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Se você pretende saber quem eu sou


Se você pretende, saber quem eu sou, eu posso lhe dizer
Entre no meu carro na estrada de Santos, e você vai me conhecer
Você vai pensar que eu não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade só a velocidade, anda junto a mim
Só ando sozinho e no meu caminho o tempo é cada vez menor
Preciso de ajuda, por favor me acuda, eu vivo muito só
Mas se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo
Eu piso mais fundo corrijo num segundo, não posso parar


Eu prefiro as curvas, da estrada de Santos onde eu tento esquecer
Um amor que eu tive e vi pelo espelho na distância se perder
Mas se o amor que eu perdi eu novamente encontrar
As curvas se acabam e na estrada de Santos eu não vou mais passar...

domingo, 18 de abril de 2010

O que tinha de ser



Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança

Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem

E eu tua mulher.
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas

com calma

Porque foste em minh’alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser.

quinta-feira, 15 de abril de 2010






Amor que nunca cicatriza
ao menos ameniza a dor
que a vida não amenizou
que a vida a dor domina
arrasa e arruina;

depois passa por cima
a dor
em busca de outro amor


Acho que estou pedindo uma coisa normal

Felicidade é um bem natural

Uma, qualquer uma que pelo ao menos

dure enquanto é Carnaval.

Apenas uma. Qualquer uma.

Não faça bem, mas que, também,
não faça mal...

não faça mal...

sábado, 10 de abril de 2010

O Amor é uma Companhia




O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.



Alberto Caieiro

sábado, 3 de abril de 2010

Mente ao meu coração




Mente ao meu coração


Que cansado de sofrer
Só deseja adormecer
Na palma da tua mão



Conta ao meu coração
Estória das crianças
Para que ele reviva
As velhas esperanças
Mente ao meu coração
Que cansado de sofrer
Só deseja adormecer
Na palma da tua mão
Conta ao meu coração
Estória das crianças
Para que ele reviva
As velhas esperanças
Mente ao meu coração
Mentiras cor-de-rosa
Que as mentiras de amor
Não deixam cicatrizes
E tu és a mentira mais gostosa
De todas as mentiras que tu dizes
Conta ao meu coração
Estória das crianças
Para que ele reviva
As velhas esperanças
Mente ao meu coração
Mentiras cor-de-rosa
Que as mentiras de amor
Não deixam cicatrizes

E tu és a mentira mais gostosa
De todas as mentiras que tu dizes"

terça-feira, 16 de março de 2010

Época

"Si desapareció
En mi aparecerá

Creyeron que murió
Pero renacerá
Llovió, paró, llovió
Y un chico adivinó
Oímos una voz, y desde un tango
Rumor de pañuelo blanco"

Gotham Project